quarta-feira, 7 de maio de 2008

O Livro


Os livros são parte muito importante da minha vida. São energia, fonte de trabalho, de reflexão... Mas aquele livro, ele é diferente dos demais. Ele tem vida própria. Apago a luz para dormir, o livro na cabeceira. Aprendi em alguma das minhas aulas que antes de o lermos, ele é apenas um amontoado de folhas impressas com letras em tinta preta. Objeto. O livro, este livro, ele não é mais um objeto para mim. Foi lido, relido, sublinhado, molhado de lágrimas, cheio de pensamentos ora lindos, ora atormentadores. O livro, mesmo assim, é uma pergunta para mim, assim como a pessoa que o escreveu se define.

Na escuridão do meu quarto, olhos fechados e rosto afundado no travesseiro, ele ainda se fazia presente. Uma energia emana de suas páginas e se enreda pelos fios dos meus cabelos, atravessa meu crânio, invade meu cérebro para depois atingir o corpo todo. É uma sensação muito forte, causa tremor e medo da necessidade eminente de acender a luz e mergulhar mais uma vez naquelas páginas. Não hoje, não tão tarde, não...


Mesmo controlando o impulso físico de esticar o braço poucos centímetros e alcançar minha perdição literária, a mente escapa: dá um salto mortal e cai dentro daquela história novamente. Lembra-se de que cada leitura daquele livro causou uma mudança grande na minha vida. A primeira, feita em uma madrugada que nunca terminava, causou uma separação. Foi um ato benéfico do livro comigo, reconheço. Agora confesso, o que ele fez por esse momento da minha vida foi através da não-identificação e não da identificação. Eu era ela, mas ele... Não, ele não era nem nunca seria ele. Coisas da vida. Guardei comigo o pavor interior de saber quem se encaixaria ali.


A segunda, em um acesso de abstinência - o livro tem poderes sobre mim - era já consciente. Senti em cada poro que a minha alma fora sugada para dentro daquele mundo em papel. A sensação vinha acompanhada de uma dor... A dor de saber que eu nunca chegaria ao final daquilo. Mas o livro causava tamanha entorpecência que tudo podia ser superado. Carpe Diem! Olha o mar, mulher, que sua grandiosidade é a analogia da tua vida. Encara sua profundidade e compara com teus olhos de mulher-mistério, de ressaca - com o perdão do roubo feito de Machado - e vê que é lindo mergulhar até a zona mais abissal da tua alma para entender quem é você.

Depois, a constatação da dependência total... Trechos, trechos... Em momentos sozinha, o livro usava todo o seu magnetismo e me dizia
Abre uma página, mulher! com aquele tom de sedução que não me deixava recusar... Uns bebem muito, outros fumam... Eu sou dependente de um livro, confesso.

Depois de tudo, de tudo mesmo, o livro armou das suas e fez com que seu nome saísse da minha boca, explicitando uma vaidade exarcebada, querendo que eu admita meu vício em público. Não me importo mais, não luto contra meu vício. Apenas agüento uma noite de sono para no dia seguinte agarrá-lo com todas as forças e mergulhar de novo. Em contato com a água os machucados doem... Mas o sangue estanca.

1 comentário:

Anónimo disse...

Que livro é esse????????
Amei esse seu texto, tão repleta de descrição de sentimentos (do jeito q eu gosto), me senti lendo esse livro.
beijos

ps: seu blog esta divino!
Luciana Augusta