Sentou-se ao seu lado, as pernas balançando no grande vazio debaixo daquele penhasco. Não olhou para o lado, somente para a o azul e o verde do céu e das copas das árvores lá embaixo.
- Sabe... - Voltou o rosto e de repente ficou muda ao encontrar o outro par de olhos, sempre era assim. Tragou o ar e continuou - Eu pensei muito em como nós viemos parar aqui. O trajeto foi... Revelador. Mas chegar aqui e olhar esse vazio me dá uma aflição louca, como se tudo que a gente faz sempre acaba em um grande nada. Você me entende?
Inclinou-se para trás, apoiando os cotovelos na pedra e desviando daquele olhar, com medo da resposta ser alguma exclamação de incompreensão ou que ele achasse graça de algo que veio de tão fundo dela, naquele momento, e que claramente tinha milhões de significações. Sentiu sua bochecha queimando, ele a estava olhando e assim permaneceu por um bom tempo. Ela olhou para o céu e deixou-se queimar pelo sol também, até que sentiu que o par de olhos e o corpo que o carregava se levantou.
- Pula.
Ela arregalou os olhos e procurou o rosto dele, não estava com uma expressão de brincadeira. Automaticamente levantou-se também e olhou para aquele rosto. Plácido.
- Você enlouqueceu? Se eu pular, morro!
- Não, se você pular, voa. E você sabe disso.
As lágrimas automaticamente brotaram do rosto dela, que levou as mãos ao rosto para limpá-las. Quando fixou o olhar de novo ele não estava mais lá. Ouviu apenas a voz que repetia para que ela pulasse, que ela não pertencia ao isolamento do penhasco, aos dias de vazio...
Tirou as roupas, não precisava mais delas. Levantou os braços, sentindo o vendo rodeando seu corpo, suas asas antes presas e escondidas por dentro das roupas mundanas se abriram lentamente como se estivessem se reacostumando a serem livres... Será que funcionariam ainda?
Pulou.
2 comentários:
Será se voce conseguiu voar???
Voei, tanto que cheguei onde estou, com quem estou!
"Defina comigo o traçado do nosso sentido"
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