quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Sobre o que virá



Eu vivi MUITO em 2008. Passei por todos os caminhos que quis, caí, levantei, dan-cei em cima de cada problema fazendo dele meu degrau pra ser mais feliz ainda. E sou! Mas em 2009 eu quero mais. Muito mais! Viajar mais, rir mais, ver mais os meus amigos, passar menos apuros na faculdade, ficar mais bonita ainda... Quero paz em meio ao caos!

Em 2008, ganhei amigos & amigos & amigos & amigos... Quando eu mais precisava deles! Cada ação teve seu desencadeamento perfeito mesmo que no início parecesse um problema. Se eu não conhecesse um, não conhecia os outros... Se eu não me aproximasse de um outro, não me aproximaria dos outros quando esse um outro fosse embora... Perfeito! Cada uma dessas pessoas me doou algo bom de si e me fez aprender um pouco mais sobre a vida, obrigada a tios, fadas, palhaços, bixcoitos, friends... Família!

Hoje não consigo ser poética, é só mais um agradecimento dentre os tantos que eu fiz a cada um de vocês durante o ano e vou continuar fazendo no que se segue.

Que venha 2009... Let the seasons begin!!!!!!!

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Sobre a felicidade dos tempos atuais



Eu pensei, pensei mesmo, em já fazer um saldo do ano aqui. Mas ainda é muito cedo, não é? Um mês de 2008 ainda pela frente e, acredite, uma vida é transformada em um mês. Melhor esperar. Mas enquanto isso acho que caem muito bem certas divagações do momento... Li uma frase de alguém no orkut hoje que me fez rir muito. Até aí tudo bem, mas a coisa é que nem era uma frase que devia me fazer rir... Mas fez. Rir de chorar. Só a simples menção me faz rir aqui de novo! Vai entender esse povo quente e letrista... Mas sigamos rumo a felicidade de maneira mais interessante e que não me faça parecer maluca:


A felicidade veio.
De-va-gar.
Quase como aquela sensação de frio na barriga antes de se fazer algo perigoso.
Devia abraçá-la?
Não, ela não vinha em forma humana, mas como uma brisa leve de fim de tarde na beira do mar que envolve e encanta o mais cansado dos corpos. Penetrou todos os poros, exalou um leve cheirinho gostoso de lavanda e ficou. Virou parte da alma, com o tempo sentiu-se tão parte dela que ousou fazê-lo vibrar com as mais pequenas coisas. Desde uma aprovação com a olhada no espelho até as mais belas horas com as mais bonitas companhias.

Quando já se sentia "em casa" dentro dela, a felicidade resolveu que solucionaria todos os seus problemas tolos de jovem preocupada com a vida.

Desatou nós e criou laços.

A diferença entre ambos é que nós são símbolo de opressão e laços a representação dos mais singelos e quistos sentimentos. Fez dela completa.

Em alguns momentos sentiu certa hesitação do seu corpo-habitat em mantê-la mas não se fez de rogada: agarrou-se às paredes de seu lar com tanta força que fundiu-se e tornou-se definitivamente dela. Fê-la rir de todas as suas mágoas, de todas as suas raivas, de todas as suas tolices. Colocou-a em contato com o âmago do seu ser para que ela percebesse que ninguém jamais poderia tê-la, a felicidade, como ela tinha.

Eram almas-gêmeas,
uma só,
pra sempre.

sábado, 23 de agosto de 2008

O poema preferido




Si el sueño fuera (como dicen)
una tregua, un puro reposo de la mente,
¿por qué, si te despiertan bruscamente,
sientes que te han robado una fortuna?

¿Por qué es tan triste madrugar? La hora
nos despoja de un don inconcebible,
tan íntimo que sólo es traducible
en un sopor que la vigilia dora

de sueños, que bien pueden ser reflejos
truncos de los tesoros de la sombra,
de un orbe intemporal que no se nombra

y que el día deforma en sus espejos.
¿Quién serás esta noche en el oscuro
sueño, del otro lado de su muro?

[El sueño , Jorge Luis Borges]



Este é o meu poema preferido faz muito tempo. Ele já esteve presente milhares de vezes no meu profile do orkut, nos meus blogs, nos meus nicks de msn... Na minha mente, no meu coração. Esse fato faz com que ele mereça um post, não é? Pois bem, aqui está.

Agora vem a pergunta de 1 milhão de dólares: porque ele?

Bueno, talvez a pergunta que o Borges faz me intrigue demais. ¿Quién serás esta noche en el oscuro sueño, del otro lado de su muro? Todas as noites, nos meus sombrios sonhos há uma transformação. Algo silencioso, velado, que faz com que na manhã seguinte eu acorde outra pessoa. Todo dia uma diferente. Não, eu não tenho múltipla personalidade, é apenas uma questão de... crescimento pessoal? Adaptação ao meio? Sobrevivência? Eu fico com todas as alternativas anteriores e ainda acrescento o fato de que ser a mesma pessoa pra sempre é chato demais, insuportável demais. Densidade me atrai. Não aquela triste, amarga, que te puxa pra um buraco... Aquela intensa e ao mesmo tempo leve, que faz com que tudo que se viva seja feito com paixão, visceralmente. "Põe quanto és no mínimo que fazes" (Ah, Fernando Pessoa!). E para isso tudo eu tenho que sempre cultivar a minha capacidade de sonhar... Sonhar com o que eu quero pra mim, com todas as coisas maravilhosas que eu tenho, com as que eu quero que as pessoas que eu amo tenham. Passar a noite num universo alternativo, deitada em um campo de lavanda pensando no que eu quero pra mim quando acordar, na pessoa que eu quero ser.

E é isso que importa.

"E se você fecha o olho
A menina ainda dança
Dentro da menina
Ainda dança
Até o sol raiar
Até o sol raiar
Até dentro de você nascer
Nascer o que há"

[Marisa Monte]

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

SUGESTÕES PARA ATRAVESSAR AGOSTO



(Caio Fernando Abreu)

Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro- e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco.É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante:ir, sobretudo, em frente.
Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir,dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons, deixam a vontade impossível de morar neles, se maus,
fica a suspeita de sinistros angúrios , premonições.Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem:qualquer problema , real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos. Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente, agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos- ou precauções-úteis a todos. O mais difícil:evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia categoria originalidade...Esquecê-lo tão
completamente quanto possível(santo ZAP!):FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.
Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se avida não deu, ou ele partiu- sem o menor pudor, invente um.Pode ser Natália Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o
seu dentista. emoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros,
juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.
Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se , e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques-tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informações para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire , a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas- coisas assim são eficientíssimas, pouco me
importa ser acusado de alienação. É isso mesmo, evasão, escapismos, explícitos.
Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente nãose deter de mais no tema. Mudar de assunto,digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco:.

(crônica escrita em AGOSTO de 1995, O ESTADO DE SÃO PAULO)

quarta-feira, 16 de julho de 2008

A Trupe



Caminhava na estrada. Sozinha. Os pés descalços e já bem calejados, as roupas sujas... O que mais dava pena era o semblante: um misto de cansaço com tristeza gravado naquela face de menina. Fazia sinal para que os poucos carros que apareciam (quem gostava de passar naquela estrada de terra quando a modernidade trouxe novos caminhos asfaltados?) mas nenhum deles se compadecia justamente pela cara suja dela.


O sol estava no seu ápice, ela não aguentou mais. Sentou-se em uma pedra enorme no acostamento e pôs-se a contar os carros que passavam para ocupar a mente. Em meio a toda a dificuldade ela conseguiu encontrar diversão, pois quando cansou de contar apenas os carros decidiu inventar histórias para cada um deles. Eram poucos e passavam espaçadamente, teria tempo de criar muitos detalhes.

Um deles, um carro grande, ela concluiu que por trás do vidro fumê existia uma família igualmente grande. Pais, trigêmeos meninos e uma confusão pela impaciência das crianças com o tempo da viagem. Riu sozinha pensando no momento da chegada ao destino - que em sua imaginação seria a casa da avó - e a corrida dos meninos pela grama até os braços de uma doce velhinha de cabelos brancos que os esperaria com abraços e muitas histórias para contar. Ela gostaria muito de abraços, de quem que fosse... Pensar nisso a deixou triste novamente e ela decidiu parar de pensar nessas coisas. Voltou a olhar para os próprios pés.

Seu transe foi interrompido pelo som de risadas ao longe... Estaria ficando louca? Olhou para a estrada e sentiu o coração bater mais forte. Chegava uma caminhonete aberta atrás, pintada com tantas cores que parecia o próprio arco-íris, mas o mais impressionante eram os seus ocupantes. Palhaços, muitos e de todos os jeitos, fadas, bonecas de pano, todos vivos e cantando sem parar. Os olhos da menina brilhavam com tantas cores e movimento surgidos do nada e ela desejou que aquele carro, justamente aquele, parasse para ela.

Levantou rápido para correr e tentar a sorte mas com a excitação levou um tombo e caiu no chão. Quando já preparava-se para levantar e não desistir (ela correria atrás daquele carro por todo o caminho se fosse necessário!) viu que uma mão delicada a ajudava a levantar-se. Eles haviam parado sem que ela pedisse e estavam todos ao seu redor! Olhou para o rosto da fada que a ajudara e não conseguiu conter o impulso de dar-lhe um abraço. O primeiro depois de muito tempo sem carinho. Ela retribuiu com tanto amor que este ato já deixaria a menina feliz por dias, mas foi ainda melhor: todos a abraçaram ao mesmo tempo, e ela chorou de felicidade em meio a todas aquelas criaturas mágicas que emanavam tanto amor. Quando a soltaram, a menina ficou impressionada pois viu que ela mesma havia se transformado em uma boneca, nunca havia se visto tão linda! Agora ela sabia o porquê do desespero em segui-los, ela fazia parte daquela Trupe.

Um minuto depois estava na caçamba da caminhonete junto com todos os outros, rindo como nem lembrava que sabia fazer. Um palhaço a chamou para sentar-se junto com ele e lhe deu as boas vindas. O carro começou a se mover e ela deu adeus para aquela estrada antes de pegar a mão do palhaço e sentir que todos sumiram no horizonte para algum lugar que ela estava louca para conhecer.

sábado, 28 de junho de 2008

Pequenas Epifanias


Olhou o pôr-do-sol e um sorriso escapou de seus lábios. Aquele final de tarde tranqüilo era algo que não tinha há muito tempo. A vida atribulada, aqueles milhares de compromissos sobrepondo-se uns aos outros faziam com que ela esquecesse das pequenas felicidades da vida... Sentou-se em um banquinho na praça sem tirar os olhos do céu alaranjado, a voz baixa falando somente para o seu eu interior:

- "Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,

que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim."

Suspirou. Nem sabia porque tinha lembrado deste poema, mas ele era uma lição de vida. Para qualquer vida. As pequenas felicidades são as principais responsáveis por momentos como este, um pôr-do-sol belo em meio à correria de uma grande cidade. Esta "lupa emocional" - e o pensamento desta expressão nova lhe fez rir das suas próprias metáforas - é essencial, concluiu. Que venham as pequenas felicidades, os finais de dia alaranjados, banhos de chuva, chocolates em momentos de stress, risadas, sonos, beijos, livros, músicas... Todas elas fazendo com que a felicidade completa exista na vida.

O tempo passou, a idéia na sua cabeça rodando, fincando raízes... Naquele momento sentiu-se descobrindo o segredo da vida, da sua vida. Aos poucos o sol foi desaparecendo do céu, a escuridão tomando a praça... Levantou, sorriu para a lua que acabara de chegar e continuou seu caminho. Sua conversa com a noite seria outro dia, hoje ela era somente sol.

sábado, 24 de maio de 2008

A Pedra Mais Alta


Sentou-se ao seu lado, as pernas balançando no grande vazio debaixo daquele penhasco. Não olhou para o lado, somente para a o azul e o verde do céu e das copas das árvores lá embaixo.

- Sabe... - Voltou o rosto e de repente ficou muda ao encontrar o outro par de olhos, sempre era assim. Tragou o ar e continuou - Eu pensei muito em como nós viemos parar aqui. O trajeto foi... Revelador. Mas chegar aqui e olhar esse vazio me dá uma aflição louca, como se tudo que a gente faz sempre acaba em um grande nada. Você me entende?

Inclinou-se para trás, apoiando os cotovelos na pedra e desviando daquele olhar, com medo da resposta ser alguma exclamação de incompreensão ou que ele achasse graça de algo que veio de tão fundo dela, naquele momento, e que claramente tinha milhões de significações. Sentiu sua bochecha queimando, ele a estava olhando e assim permaneceu por um bom tempo. Ela olhou para o céu e deixou-se queimar pelo sol também, até que sentiu que o par de olhos e o corpo que o carregava se levantou.

- Pula.

Ela arregalou os olhos e procurou o rosto dele, não estava com uma expressão de brincadeira. Automaticamente levantou-se também e olhou para aquele rosto. Plácido.

- Você enlouqueceu? Se eu pular, morro!
- Não, se você pular, voa. E você sabe disso.

As lágrimas automaticamente brotaram do rosto dela, que levou as mãos ao rosto para limpá-las. Quando fixou o olhar de novo ele não estava mais lá. Ouviu apenas a voz que repetia para que ela pulasse, que ela não pertencia ao isolamento do penhasco, aos dias de vazio...

Tirou as roupas, não precisava mais delas. Levantou os braços, sentindo o vendo rodeando seu corpo, suas asas antes presas e escondidas por dentro das roupas mundanas se abriram lentamente como se estivessem se reacostumando a serem livres... Será que funcionariam ainda?

Pulou.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

O Livro


Os livros são parte muito importante da minha vida. São energia, fonte de trabalho, de reflexão... Mas aquele livro, ele é diferente dos demais. Ele tem vida própria. Apago a luz para dormir, o livro na cabeceira. Aprendi em alguma das minhas aulas que antes de o lermos, ele é apenas um amontoado de folhas impressas com letras em tinta preta. Objeto. O livro, este livro, ele não é mais um objeto para mim. Foi lido, relido, sublinhado, molhado de lágrimas, cheio de pensamentos ora lindos, ora atormentadores. O livro, mesmo assim, é uma pergunta para mim, assim como a pessoa que o escreveu se define.

Na escuridão do meu quarto, olhos fechados e rosto afundado no travesseiro, ele ainda se fazia presente. Uma energia emana de suas páginas e se enreda pelos fios dos meus cabelos, atravessa meu crânio, invade meu cérebro para depois atingir o corpo todo. É uma sensação muito forte, causa tremor e medo da necessidade eminente de acender a luz e mergulhar mais uma vez naquelas páginas. Não hoje, não tão tarde, não...


Mesmo controlando o impulso físico de esticar o braço poucos centímetros e alcançar minha perdição literária, a mente escapa: dá um salto mortal e cai dentro daquela história novamente. Lembra-se de que cada leitura daquele livro causou uma mudança grande na minha vida. A primeira, feita em uma madrugada que nunca terminava, causou uma separação. Foi um ato benéfico do livro comigo, reconheço. Agora confesso, o que ele fez por esse momento da minha vida foi através da não-identificação e não da identificação. Eu era ela, mas ele... Não, ele não era nem nunca seria ele. Coisas da vida. Guardei comigo o pavor interior de saber quem se encaixaria ali.


A segunda, em um acesso de abstinência - o livro tem poderes sobre mim - era já consciente. Senti em cada poro que a minha alma fora sugada para dentro daquele mundo em papel. A sensação vinha acompanhada de uma dor... A dor de saber que eu nunca chegaria ao final daquilo. Mas o livro causava tamanha entorpecência que tudo podia ser superado. Carpe Diem! Olha o mar, mulher, que sua grandiosidade é a analogia da tua vida. Encara sua profundidade e compara com teus olhos de mulher-mistério, de ressaca - com o perdão do roubo feito de Machado - e vê que é lindo mergulhar até a zona mais abissal da tua alma para entender quem é você.

Depois, a constatação da dependência total... Trechos, trechos... Em momentos sozinha, o livro usava todo o seu magnetismo e me dizia
Abre uma página, mulher! com aquele tom de sedução que não me deixava recusar... Uns bebem muito, outros fumam... Eu sou dependente de um livro, confesso.

Depois de tudo, de tudo mesmo, o livro armou das suas e fez com que seu nome saísse da minha boca, explicitando uma vaidade exarcebada, querendo que eu admita meu vício em público. Não me importo mais, não luto contra meu vício. Apenas agüento uma noite de sono para no dia seguinte agarrá-lo com todas as forças e mergulhar de novo. Em contato com a água os machucados doem... Mas o sangue estanca.

domingo, 4 de maio de 2008

Confessionário



Esse é o primeiro dia do resto da minha vida. Depois de tantos problemas, choros, perdas e até uma morte, eu finalmente decidi que tenho que dar um rumo pra minha vida. É difícil, porque esse ano foi realmente uma merda... Nunca tinha entrado numa bad tão bad como dessa vez, mas também nunca tinha passado por tanta dor ao mesmo tempo. Foram várias pedras rolando pelo barranco e vindo em direção à mim... Não que eu seja vítima de tudo que acontece, não é verdade, mas a maioria das coisas foram cruéis. Perder o Iron pra sempre foi a pior de todas, porque eu simplesmente não tenho como vê-lo nunca mais nessa vida. Se eu já estava muito mal - e curiosamente o Iron estava louco querendo conseguir me reerguer - a ida dele me deixou na merda. No chão. Foi a terceira morte de pessoa próxima pelo qual eu passei nessa vida, mas foi a mais traumática pra mim. Resta à mim fazer valer todo o esforço que ele teve comigo e me reerguer.

Quantas vezes eu ensaiei coisas pra dizer, pra resolver meus problemas mais dolorosos, e não tive coragem de pô-las em prática? Quando a gente passa por uma coisa parecida - não igual - outra vez, tem medo de repetir os erros passados, de cobrar rápido demais uma solução e atropelar pensamentos. Ao mesmo tempo, o medo de ser mal compreeendida pela falta de atitude. Geralmente eu teria mais atitude sim, mas as outras pedras que me atingiram ao mesmo tempo fizeram de mim fraca, um bichinho pequeno deitado numa cama por dias e sem conseguir viver. Espero que todas essas dores paralelas não tragam mais dor na hora de resolver o problema que eu sei que ainda pode ser resolvido de alguma forma boa.

Agora é esperar.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Mulher- borboleta


Nada acontece por acaso. No dia que minha mãe me teve e me concedeu esse nome - Vanessa - não estava pensando no significado, só que era bonito, começava com V como o nome do meu pai, e na modelo da época que tem esse nome. Hoje em dia, eu vejo que não foi só isso:

"Vanessa Atalanta
É uma borboleta migratória que na Primavera voa da bacia mediterrânea para o Norte e Centro da Europa onde desenvolve uma a duas gerações. Regressam no Outono ao Sul, mas a maioria morre com o frio antes de lá chegar.

É uma das poucas borboletas capaz de voar com o tempo encoberto, e até mesmo na chuva.
Hiberna como borboleta. "


É... Uma borboleta. Eu sou um gênero de borboletas. Talvez muita gente diga que é forçar barra, mas isso de uma maneira ou outra sempre fez parte de mim, antes mesmo que eu descobrisse. Assim como a borboleta, eu já fui uma lagarta. Sem personalidade, só me arrastando e deixada de lado. Fui assim por muito tempo.

Um dia, entrei em um casulo. Esse envoltório era um organismo vivo, não só uma casca. Do casulo, a borboleta ganha suas asas e a chance de mostrar tudo que tinha guardado dentro de si para o mundo exterior. Como a Atalanta, eu ganhei minhas asas, bons fluidos, energia, aprendizado... Cada pequena coisa dava mais vivacidade às minhas asas coloridas.


Quando o casulo cumpriu a sua missão, se abriu e me deixou sair. Eu não queria sair, encolhi minhas asas ao máximo tentando mostrar não estar pronta mas quando é a hora, nada pode impedir. Nem eu mesma posso. Abri minhas asas e fiquei ainda um tempo contemplando a beleza delas. Em cada manchinha colorida, eu sorria e via uma parte da minha história washed in black and tattooed everything. Haviam outras histórias nas minhas asas mas essas manchas eram as maiores, mais bonitas.

Fechei os olhos e bati as asas pela primeira vez. Era doloroso, pois estavam sendo usadas pela primeira vez, mas crescer dói. Aliás, não dizem que viver dói? Eu comprovei que é verdade, mas a dor no fundo esconde uma pontinha de prazer... Voei. Olhei pra trás e o casulo tinha sumido, talvez absorvido pela natureza para reaparecer quando estivesse bonito e completo de novo, ou transformado em alguma outra vida.

A metamorfose, visualmente, parece que acabou... Mas por dentro ela nunca pára. A agora delicada borboleta por dentro tem muralhas mais fortes que aço, é guerreira e como a Atalanta suporta o frio mesmo que tenha que hibernar de vez em quando. A delicada borboleta é mais forte que parece. Muito mais.

sábado, 26 de abril de 2008

Sobre aquela foto nossa que não é nossa


Eu lembro do dia que ganhei essa foto. Olhei e não acreditei na perfeição. Cheguei a fuçar minha coleção de mais de 400 fotos pensando de onde diabos você tinha tirado material... Talvez fosse melhor não ver as partes separadas, somente curtir o todo. A gente ali, em nossas formas abstratas de ser no qual nos acostumamos a ver, tínhamos um olhar de promessa um para o outro. Promessas que seriam concretizadas nos meses seguintes, as únicas que podíamos fazer. As outras, aquelas veladas, nunca seriam feitas porque sabíamos que nunca seriam realizadas. A única maneira de abrir as portas da percepção é manter alguns termos de contrato, e é isso que fizemos. O racionalismo em meio à selvageria.

Não posso mentir, dói olhar esse olhar cúmplice dessa foto nossa que não é nossa. Lembro-me de poder correr em meio à floresta, de quebrar uma barreira a cada dia e gostar disso. Eu sinto falta da minha condição selvagem, descontrolada, errante. Ela ainda existe, mas não daquele jeito. Nunca mais será. Nunca se consegue uma epifania igual à anterior...E eu tive a melhor da minha vida.

Coloco essa foto na minha mais importante gaveta, e torço pra que um dia eu tenha uma foto nossa NOSSA. Talvez não com esse olhar, mas com o amor e carinho que você merece. E você merece mais que ninguém nesse mundo.

“Como um trem de carga
Contra a noite erma,
Velozmente erma,

E noite.”

O Gigante e a Anãzinha


Um.

Nasceu como uma junção de forças para o bem de uma pessoa amada em comum. Dessa missão surgiu uma dupla de "bad boys", com muitas e muitas estratégias de ataque... Como eu ria com isso tudo, gigante...
Paralelamente, havia a preocupação. Comigo, com você, com ela, com tudo. Esse sentimento aumentava a cada dia proporcionalmente ao amor que crescia entre a gente. Um amor muito puro de irmão, de amigo, de anjos da guarda. Vieram as conversas sobre os medos, as broncas pelas merdas que eu e você fazíamos e a cada coisa que acontecia os papéis eram trocados... A anãzinha aqui provou que tamanho não é documento e sempre conseguia te transformar em um menino ouvindo o esporro de quem te quer bem, mesmo que tivesse que subir em um banquinho pra enfiar o dedo na sua cara e dizer tudo que eu penso! Sempre foi pro seu bem, você sabia e acolhia cada palavra como um estranho gesto de carinho.

Dois.

A plenitude da amizade. Todo dia era uma delícia ver você chegando e, mesmo de tão longe, mostrando pelas suas PEQUENAS LETRAS o quanto era gigante. Esse tamanhão todo não só de altura, de músculo, de voz. Era de coração. Um jeito meio ogro de demonstrar isso às vezes (principalmente quando dizia que ia casar comigo e com a nossa red, mas que eu era muito assanhada e ia ficar trancada numa adega pra parar de fazer merda por aí), mas eu adorava. Adorava mesmo! As melhores conversas tolas, as melhores risadas intermináveis, a sensação mais gostosa do mundo de sentir que eu tinha o ogro mais lindo do mundo na minha vida. Cunhado, "marido", AMIGO. Pra ninguém botar defeito. Até porque se botassem defeito na gente, nós metíamos a porrada, né? Dois nervosinhos de carteirinha!

Três.

O medo constante de te perder por essa merda de vida perigosa... A cada viagem meu coração ia na boca e torcia pra você voltar logo e invadir meu msn com letras GARRAFAIS perguntando se eu tinha aprontado muito na sua ausência... Pouco antes de você ir, um susto. Naquele dia eu quase surtei por saber que você tinha se machucado, e mesmo que tenha sido de raspão eu "desci a lenha" em você. Falei tanto até conseguir a promessa de que você procuraria uma vida menos perigosa, cuidaria desse stress, desse machucado, dessa vida... Eu lembro, a última coisa que li de você foi alguma variação de "Eu te amo, baixinha"...

Eu também te amo, gigante! Muito, MUITO...

Cuida da gente daí de cima, puxa o pé de quem você achar que tá fodendo nossa vida como você faria. Vou continuar aqui conversando com você de alguma forma e esperando te encontrar na próxima vida. Como você diz, por você eu mato, faço tudo, porque amizade assim não se encontra em qualquer buraco aí. E cuidar dessa dor que não passa principalmente por não ter podido te dar um abraço...

terça-feira, 22 de abril de 2008

Acordei pensando em uma frase que ouvi essa semana, conversando com uma amiga minha. "Você quer abraçar o mundo!", no contexto da conversa, era algo que se referia à ela, mas hoje eu vi que é algo aplicável à mim também... É claro que eu quero abraçar o mundo! Vivo me enchendo de matérias na faculdade, tomando a frente de maneira até pouco saudável nos trabalhos, me frustrando muito quando tudo isso se embola e algo dá errado. Também sou ouvinte dos meus amigos, dos meus pais, de muita gente. E os meus problemas pessoais ainda vem pra coroar... Enfim, isso todo mundo tem. Mas eu pego tudo isso, coloco numa caixa do tamanho do mundo e tento levantar SOZINHA. É, eu sou orgulhosa pra caralho e não acho isso de todo um defeito, assim como a minha mania de falar e depois pensar no que eu falei pra tal pessoa.

É, eu fico tentando abraçar o mundo com as mãos... Mas eu PRECISO fazer isso, gosto de pelo menos tentar mesmo que depois eu caia com aquela caixa do tamanho do mundo na minha cabeça!

domingo, 13 de abril de 2008

Domingo...



De acordar com aquela sensação gostosa de que se pode dormir quantos mais cinco minutinhos que quiser...

De ouvir risada gostosa de criança, ver o priminho achar que uma pequena piscina é um oceano cheio de aventuras...

De ver sair o sol, sentar na janela e pensar como essa folguinha vem a calhar...

De ler jogada no sofá, na cama, no chão... Mas na verdade se sentir estando em mundos nunca conhecidos fisicamente onde todos falam o idioma tão amado...

De ter tempo pra almoçar com a família, rir com as piadas, não precisar lavar a louça depois...

De sentar pra conversar com aquele amigo sincero e ver que existe gente que entende, pensa e age assim também...

De pensar em sair mas ter a opção de não sair também porque não é dia de obrigações...


E relaxar.
E esquecer os problemas.

Mas também de lá no final sentir a angústia provinda da segunda-feira batendo à porta...

sábado, 12 de abril de 2008

A arte de ser feliz


" Houve um tempo em que minha janela se abria
sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde,
e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Às vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim."
[Cecília Meireles]

Lua Adversa *-*

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...



[Cecília Meireles]

sexta-feira, 11 de abril de 2008

¬¬

Ah... Um novo dia se inicia. A menininha levanta da cama meio cambaleante de sono, ainda abraçando o travesseiro.

Please don´t stop the music, music...

Eita, que bosta de música é essa?

Anda até o banheiro, faz seu xixi matinal, escova os dentes e pula para debaixo do chuveiro. Com o pente na mão, desembaraçando as madeixas...


Please don´t stop the music, music...

Ahhhhh, caralho! De novo?

Amaldiçoa a Rihana e todos os cantores de hiphopouseiláoque, enrola-se na toalha e vai até o quarto. Começa a colocar a roupa, arrumar os livros na mochila (mentira, só meia dúzia de folhas porque na faculdade os professores da menininha adoram uma xérox). Já atrasada vai tomar um copo de suco antes de sair.


Please don´t stop the music, music...


A neurose começa. Já no ônibus, liga o mp3 e ouve músicas BOAS, viaja nelas, mas aquela maldita batida fica mais alta dentro da sua cabeça, superando qualquer outra que esteja saindo dos fones de ouvido. É um pesadelo? Ela belisca o próprio braço e comprova que está mesmo acordada. Começa a pensar que talvez tenha tomado algum alucinógeno sem perceber... Seria o molho shoyu, o suco, o iogurte, o frango de ontem? Hoje em dia misturam tanto em tudo, vai saber...
Desce do ônibus e vai andando em direção à estação das barcas. Já desistiu de ouvir o mp3, só consegue se concentrar no ódio daquela maldita batida e frase se repetindo na sa cabeça, e rezando para os deuses que a pilha desse "mp3 cerebral" termine logo e essa porra cesse.
Encontra os amigos, pegam a barca. Ela finalmente conversa com eles e se sente libertada. Tadinha dela... É só colocar os pés em terra firme novamente e se calar durante a caminhada que...

Please don´t stop the music, music...

Please don´t stop the music, music...

Please don´t stop the music, music...

Please don´t stop the music, music...


AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!



Maldito poder da mídia!¬¬

[Re]começar

Regras:

1- É, eu apago posts quando eles me incomodam;
2- É, eu não posto com freqüência;
3- É, às vezes eu posto com freqüência DEMAIS;
4- É, talvez metade do que eu escreva só faça sentido pra mim... E daí?rs

Regras ditas, vamos ver se dessa vez eu aguento o tranco!